É possível realizar um Festival do Japão mais inclusivo, para todas as pessoas?
Desde 2005, quando a voluntária Áurea Shinto (in memorian) passou a liderar as caravanas do Festival do Japão, recebendo as caravanas do Atende (serviço da SPTrans voltado às pessoas com deficiência), o evento tem se preocupado muito com essa questão, lançando iniciativas pioneiras para receber melhor todos os públicos, com destaque para a entrada cortesia às pessoas com deficiência, meia-entrada para um acompanhante, empréstimo gratuito de cadeiras de rodas e a contratação de vans especializadas para o transporte de PcD, entre outros projetos.
E uma das pioneiras para iniciativas voltadas à inclusão e acessibilidade no Festival do Japão é a voluntária Rosa Matsushita, especialista em audiodescrição, jornalista e professora, que por muitos anos coordenou o palco do Festival, e em 2023 retorna como coordenadora da equipe de Acessibilidade.
“O objetivo principal da equipe foi o de recepcionar as pessoas com deficiência a fim de que elas tivessem uma experiência diferenciada dentro do universo do Festival do Japão e que elas tivessem liberdade e autonomia para aproveitar as delícias que o Festival proporciona. Acredito que alcançamos o primeiro objetivo, mas ainda faltam algumas coisas para tornarmos o Festival realmente acessível e inclusivo, porque, por enquanto, as pessoas com deficiência só conseguem participar se vierem acompanhadas, mas já demos o primeiro passo!”, explica Rosa.
A equipe teve cerca de 50 voluntários por dia, atuando na recepção às pessoas com deficiência, reunindo membros do Achilles International Brazil, estudantes de Veterinária da Unicsul e voluntários veteranos. “O Achilles, inclusive, trouxe muitos voluntários que falam Libras, o que nos ajudou a nos comunicarmos com a comunidade surda, que veio em peso para o Festival. Tivemos pessoas com deficiência visual, com deficiência física, surdos e autistas trabalhando conosco, foram voluntários de todas as idades, tudo junto e misturado, e foi uma oportunidade muito valiosa!”, complementa a coordenadora.
O time também foi responsável pelo setor de Empréstimo de Cadeira de Rodas, localizado logo na entrada do evento. “Este é um setor difícil, no qual precisamos lidar com pessoas idosas, algumas com deficiência, mas, na grande maioria, pessoas com alguma dificuldade de locomoção. No final, a dor nos pés, na lombar e no corpo todo, o sol na cabeça, a chuva, a vontade de sentar e chorar e tudo o mais que passamos… tudo isso foi recompensado quando as senhorinhas de 90 anos, que quase todos nós levamos até o estacionamento, nos olhavam e nos diziam: Arigatou! Quando a gente viu o sorriso de uma pequenininha que aproveitou o Festival por horas, porque tinha uma cadeira de rodas. O final de semana do Festival para nós, da Acessibilidade, foi sobre isso: AMOR!”, finaliza Rosa.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lançado em 2021 como parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), traçou o perfil dos brasileiros com deficiência no país, concluindo que temos cerca de 17,3 milhões de pessoas (8,4% do total da população) com pelo menos um tipo de limitação. E é para essas pessoas que o trabalho da comissão é dedicado, com muito amor!
Fotos: Thamires Reis, Keiny Andrade, Cassio Shimono e arquivo pessoal